Promessa de retorno em 2018, dribles nas consultas para tratar da saúde mental, seis jogos e dois gols em seis anos: o Imperador entre a rede social, a vida real e o adeus ao futebol
Pouco antes, em entrevista a um canal no YouTube, questionado sobre o Flamengo, ele já dera a deixa: “Não precisa me pagar, faço por amor”.
Janeiro chegou. Questionado sobre o jogador, o presidente Eduardo Bandeira de Mello disse que não fecharia as portas para o Imperador, que o clube poderia ajudar num processo de volta aos gramados, mas que isso partiria inicialmente do departamento médico.
Mais do que físico, o problema de Adriano é médico. Há anos.
As redes sociais fervilharam com antigos gols, novos memes, muitos a favor de um possível retorno, tantos outros contra e, praticamente, todos céticos quanto a uma volta. Parte da imprensa carioca abraçou a causa.
Em 23 de janeiro, o jogador passou a postar vídeos de trabalhos físicos em uma academia particular, afiando a potente perna esquerda num campinho de grama com terra batida. Durou até 9 de fevereiro, véspera de sábado de Carnaval, curiosamente. Após praticamente 20 dias longe das academias, Adriano voltou a divulgar um vídeo cuidando da forma no último dia 28.
O Imperador empolgou torcedores e internautas ao aparecer "fininho" na sua rotina de malhação no Instagram. Milhares de curtidas e mensagens de apoio. E crescia a comoção em torno de um possível retorno aos gramados. E ao Flamengo.
Fla ressabiado e o vai, não vai no psiquiatra
Internamente, no Flamengo, nem o mais otimista fã de Adriano tinha convicção ou acreditava no retorno. O assunto sempre foi tratado de forma sutil, por ser o Imperador um ídolo que merece carinho; e mais ainda porque qualquer declaração fora de tom poderia jogar parte da torcida contra o clube.
Ciente de que mais do que no pé, o problema de Adriano está na cabeça, o Flamengo recomendou acompanhamento psiquiátrico. Ele, como fez em diversos momentos em que ouviu sugestões para que procurasse médico para tratar da saúde mental, driblou o conselho. Faltou a primeira consulta, apareceu na segunda e não foi novamente na terceira.
Em maio de 2016, quando Adriano deixou o Miami United e um projeto frustrado após um jogo oficial e um amistoso, muito se questionou se estaria dando entrada na aposentadoria. Garantiu que não.
Em dezembro de 2017, voltou ao Maracanã para o Jogo das Estrelas de Zico: chegou atrasado, foi saudado pela maioria rubro-negra presente ao estádio, fez um gol, mas deixou nítido que ainda faltava muito para realizar o que prometera a Bial: voltar a jogar futebol profissionalmente em 2018.
No Carnaval, nada de postagens com vídeos dos treinamentos. Ele reapareceu e explicou que tinha perdido a linha. Telefônica, no caso. Voltou a postar, mas dessa vez chamando mais atenção pelo visual, com bigode que virou meme e gerou brincadeiras.
Confiança e pisando fundo
A relação estreita e intensa com o álcool continua, segundo pessoas que convivem com Adriano.
Um ponto chama atenção e remete aos momentos do auge da carreira, quando alternava grandes atuações e gols com sumiços e indisciplinas.
No momento em que Adriano se sente autoconfiante, ganha ânimo, é exaltado – como foi na sua rotina de treinos postados na rede social -, se sente muito seguro de si e aí pisa fundo – mas não com sua perna esquerda.
6 jogos em 6 anos
Adriano completou 36 anos em fevereiro. Difícil crer que ainda possa jogar em alto nível. Ou ao menos atuar de forma profissional.
Desde que saiu do Corinthians, em março de 2012, Adriano ficou longos períodos inativo e defendeu Atlético-PR e Miami United. Em seis anos, disputou meros cinco jogos oficiais, um amistoso e fez dois gols. Média de um jogo por ano!!! Tanto no time paulista, como no Furacão e na equipe americana, saiu envolto em polêmica de peso e indisciplina.
Mais difícil ainda é acreditar que vá ceder e levar a sério um tratamento psicológico/psiquiátrico. Sua cabeça foi seu grande rival nos últimos anos.
Chamar Adriano de jogador é quase uma figura de linguagem. Talvez seja hora de trocar de camisa, deixar na memória e no armário a peça que trazia a frase “que Deus perdoe essas pessoas ruins” e vestir outra com o refrão do funk “eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde nasci”.
Adriano, que tanta alegria deu aos rubro-negros, italianos e brasileiros amantes do futebol, tem direito de ser feliz, seja na favela onde nasceu, na sua mansão na Barra ou onde bem entender. E melhor: sem ter que dar satisfações a ninguém.
Mas não tem, depois de tantas escorregadas e promessas não-cumpridas, por que vender e viver de ilusões no cada vez mais profissional mundo da bola.
Dia desses, ouvi uma garotada mais nova falando sobre Adriano. Conheciam pouco da carreira e do jogadoraço que um dia foi - e sabiam menos ainda dos inúmeros percalços da vida pessoal e profissional do Imperador. Mas acompanham em tempo real o “Instagram do Didico”, como chamam.
Mas a vida real nem sempre é tão bonita como aparece na rede social. No Insta, Adriano anda fazendo barba, cabelo e bigode - literalmente. Nessa rede, porém, não dá para fazer gols.
Num post imaginário, eu diria: Que você seja feliz quando der entrada na aposentadoria, Didico. Merece, e o futebol agradece. Deixe essas pessoas ruins para lá, dê um descanso para Ele, afinal, como cantava o saudoso Almir Guineto, "Tudo que se faz na Terra, se coloca Deus no meio, Deus já deve estar de saco cheio".
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